terça-feira, 6 de setembro de 2011

Amor além da imaginação

Muita gente estranha o sucesso que séries de livros como Crepúsculo tem feito. Eu não estranho.  Recentemente li o primeiro livro de uma série chamada Os Imortais. A história é engraçadinha, bonitinha, tem ação e viagem na maionese. E, é claro, uma relação fora do normal [spoiler aqui]: uma menina problemática que se envolve com o cara perfeito, que tem quase 600 anos. Não, não é um vampiro, é um alquimista que conseguiu produzir o Elixir da Imortalidade [fim de spoiler].


            Além disso, outros livros com a mesma situação fazem tanto sucesso quanto, como por exemplo, O Mensageiro, sobre a relação entre mortal e anjo. Acredito que haja mais histórias virando best-sellers com essa temática.
            Mas se engana quem pensa que isso é modinha, pois não é. Na mitologia grega, a relação entre mortal e um deus ou daemon (elemental) era comum. Peleu, rei de Ftía, não conseguiu segurar sua virilidade e tomou a belíssima deusa do mar Tétis a força. Ela, depois de tentar fugir da rede que ele a envolveu, desistiu, e acabou cedendo ao rei. E gostou. Gostou tanto que casou com ele e teve Aquiles, um dos maiores heróis da Ilíada de Homero. Ariadne se apaixonou por Teseu, que a abandonou. Compadecida, Afrodite, deusa do amor (a bendita!) resolveu arrumar um marido imortal para a pobre Ariadne: Dioniso, o deus do vinho e da festança. Eu poderia citar várias outras lendas.
            Eu mesmo cheguei a escrever dois contos (inacabados) com histórias semelhantes. Um era sobre uma menina que se apaixonava por um tritão (sereio), no interior da Bahia, e outro em que uma garota se envolvia com Tupã, o deus-trovão dos índios.
            Voltando ao Crepúsculo, a Bela não dá somente a sorte de se envolver com um vampiro. Não satisfeita, ela tem um romance com um ‘lobisomem’. O plano de saúde dela deve cobrir terapias, espero... E ela se dá ao luxo de dispensar um dos seus colegas de classe (um pobre mortal...)
            Podemos perceber, logo, que o mito do ‘amor entre mundos’ não faz sucesso somente porque está na moda. Esse sucesso apenas se agravou em uma sociedade pós-moderna, onde tudo, inclusive as relações, é passageiro. Uma relação com um ser mágico e imortal é eterna: um humano que se dispõe a entrar no mundo deste ser mítico é porque quer algo duradouro. Tão duradouro que leva a eternidade. O vazio das relações da contemporaneidade leva ao caminho da eterna busca da perfeição (que não existe) ou a uma adequação (aceitar que as relações sejam passageiras). Portanto, aos que ainda acreditam na relação duradoura e verdadeira, resta a fantasia. Quem espera uma relação de verdade, duradoura e real, vai ter que esperar um vampiro, um lobo, um anjo... Ou estuprar uma deusa, ganhar o amor de um deus... E será que esses seres não existem mesmo? Os que acreditam na paixão verdadeira provavelmente me dirão que sim, eles existem.

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