Os dizeres são sempre os mesmos: “Irmão é o amigo que você vai ter para sempre”, “Temos que honrar pai e mãe”, ou então “Mãe é amor”. Tudo mentira. Existe essa cobrança social de que temos que enxergar nossos parentes como “porto seguro”. Sinto muito, eu dou parabéns aos que tem a família perfeita e podem cantarolar por aí essas palavras. Não é o meu caso, uma vez que boa parte dos meus problemas teve origem na minha família. Os ditados que eu prefiro usar são “Parente é serpente” e “Família só é bonita no porta-retrato”.
Toda família tem um vaso ruim, não tem jeito. Não necessariamente a “ovelha negra”, aquele primo roqueiro, ou aquela tia solteirona, mas alguém com desvio de caráter. Um parente que, por onde passa, causa destruição e brigas, voluntariamente. Na minha família tenho casos como este e, por esse motivo, passei muito tempo da minha vida a achar que pessoas assim eram exclusividade da minha casa. Só aos 20 anos que fui descobrir que todo lar tem pelo menos uma pessoa com desvio de caráter, mas a maioria das pessoas prefere omitir isso. Sempre desabafei meus problemas com um amigo ou outro, que apenas ouviam e se calavam. Não sabia que, na verdade, eles passavam por situação semelhante.
O limite das relações também é muito vago nas famílias brasileiras. Se eu tivesse um filho, jamais daria o direito de um irmão meu, meus pais ou primos de emitirem certos tipos de opiniões ou fazerem observações babacas sobre ele. Coisas do tipo “está na hora de ele casar” ou “ela está muito gordinha, não acha?” são, para mim, o cúmulo da grosseria, uma vez que nem eu mesmo teria o direito de me meter na vida pessoal do meu filho e teria uma visão perfeitamente boa para notar quem minha filha está acima do peso. Algumas pessoas se valem do laço sanguíneo para entrar na casa de um familiar, comer, bagunçar e, ainda por cima falar o que quiser. Não é bem assim que a banda toca.
Nossos pais nos deram educação, nos alimentaram, bancaram a gente por bastante tempo. Verdade. Mas também é verdade que não fomos nós que escolhemos ser dependente deles, nem pedimos isso a eles, quando nascemos. Portanto, usar esse pretexto para agredir ou humilhar um filho, sobrinho ou neto não é nada válido. Quem se prontificou a se responsabilizar pela criação da uma pessoa, fez por escolha própria. Acho que muita gente não tem vocação para ser pai ou mãe e não dá a devida educação aos filhos, baseada no respeito, na compreensão e no carinho. Isso talvez explique tantos casos de negligência e maus tratos.
Errar é humano, persistir no erro é burrice, mas perdoar é divino. Isso mesmo, divino. De Deus. Ninguém tem obrigação de perdoar um familiar que tenha causado alguma mágoa ou raiva. Minhas congratulações aos colegas que conseguiram deixar pra lá uma ofensa ou um mal feito por algum parente. Infelizmente – ou felizmente - não é o meu caso. Outros preferem perdoar. Mas duvido que esqueçam.
Família é o berço. É muito importante que ela seja bem estruturada para que sejam formados cidadãos conscientes e pensantes. Pais, mães, tios e avós precisam entender que certos hábitos ruins nas relações sociais começaram dentro de casa. Precisam entender que filhos não são criados para eles, mas para o mundo.
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